Mostra LUPA - apresentação


Hélio Schonmann


 A exposição LUPA é fruto de um processo,  iniciado no segundo semestre de  2012, no âmbito do projeto VI(VER) diálogo gráfico, com a realização de experimentos de desenho em relevo.  O grupo de  criadores com deficiência visual  coordenado por Lúcia Neto  – Ary  Francon, Marcelo Arruda, Gilmar Lima e Thiago Francisco – iniciou  em 2015 uma nova etapa  de trabalho, focalizando  a pesquisa  tridimensional e questões identitárias.  

Ao concebermos a mostra,  nosso principal objetivo foi dar visibilidade a universos sensoriais e sensíveis muito singulares. Esse propósito nos levou a uma abordagem  experimental no campo da fruição: convidamos o público a assumir posição inversa àquela  que está habituado, tendo contato  inicial com  os objetos através do toque. Num segundo momento, através da  audiodescrição  (na voz dos criadores).  Por fim, através  da observação visual.  A opção por priorizar o campo tátil  e  a informação por áudio –  neutralizando, temporariamente,  a atuação do olho –  coloca em evidência facetas  essenciais do processo de percepção da obra plástica: intuição, imaginação, raciocínio dedutivo, memória, emoção, sensações  não visuais.

 “Meios limitados (....) engendram formas novas, convidam à criação” escreveu  George Braque. O limite físico da  não vidência é pensado em LUPA numa ótica muito próxima àquela expressa pelo artista –  a partir de seu potencial transformador. Esse é um trabalho que busca  desconstruir hábitos e padrões arraigados de percepção, aproximando mais o observador do mundo que o cerca e daqueles que vivenciam esse mundo de forma muito diferente da sua.      

                                              

Exposição LUPA
Projeto de Lúcia Neto, realizado com pessoas com deficiência visual

Participantes
Ary  Francon | Marcelo Arruda | Gilmar Lima | Thiago Francisco

Curadoria
Hélio Schonmann

Produção gráfica
Sergio Kon

Setembro de 2015

Museu Histórico Paulo Setúbal 
Praça Manoel Guedes, 98, Centro, Tatuí, SP




Arte e Identidade - o trabalho de Thiago Vaz

Thiago Vaz é um artista inquiridor, extremamente atento a tudo que o cerca. Recordo-me de vários diálogos que tivemos sobre arte pública e traduzo aqui, em palavras minhas, o que entendo ser o eixo de suas reflexões: como desenvolver um processo orgânico de trabalho, coerente com o tempo e o lugar?
Entre outras questões essenciais ao fazer artístico, Thiago é particularmente sensível a temas referentes à identidade cultural. Mas na contemporaneidade, os limites entre cultura local e  global vão se tornando mais e mais fugidios, convertendo esse num dos temas mais  espinhosos e complexos da atualidade. A tecnologia que nos conecta, multiplicando redes de informação, tende a derrubar muitas fronteiras, criando novos laços e referências – fragilizando, por vezes, vínculos de pertencimento com o entorno imediato. Mas a inegável tendência a uma certa homogeinização comportamental, que testemunhamos em nossa era, não elimina diferenças culturais mais profundas entre contextos locais. A diversidade persiste, como fator de enriquecimento da vida humana.
Ser permeável à informação que nos vem de fora, sem perder de vista nossa singularidade: eis um desafio que só faz crescer, neste início de milênio. Dentre os jovens que se dedicam hoje, em São Paulo, a intervenções de rua, Thiago se destaca por sua decisão obstinada e corajosa por enfrentar delicadas questões identitárias. Destaca-se também por muitas qualidades que engrandecem e potencializam o natural talento artístico de que é dotado: capacidade de comunicação, independência, paixão, constância. É um artista consciente da realidade histórica na qual está inserido e da enorme responsabilidade implícita em toda e qualquer intervenção no espaço público. Sua postura e ação são plenas de inquietação e dignidade.



Hélio Schonmann


Ação Educativa 2013 - trabalho de Thiago Vaz