O lambe-lambe

Hélio Schonmann



O lambe-lambe é uma imagem essencialmente nômade. Daí resulta sua grande versatilidade e a desenvoltura com que transita entre espaço público e privado – característica que o coloca em posição singular e privilegiada, no contexto da reflexão artística contemporânea. Obras idênticas vão sendo transformadas pela cidade: em cada nova locação, signos urbanos interferem em seu conteúdo, sugerindo diferentes leituras.

O lambe-lambe vem se tornando, cada vez mais, um campo fértil à experimentação gráfica, abarcando xilogravura, stencil, desenho, fotografia, tipografia e imagem digital. O laboratório dessa experimentação pode ser pensado como uma continuidade entre atelier – ou computador – e cidade. Nisso ele se diferencia daquelas manifestações de arte de rua cuja elaboração se dá, exclusivamente, no corpo-a-corpo físico com a metrópole. O processo de elaboração do lambe-lambe tem outra natureza, inclusive por que ele é concebido para um campo pré-determinado e restrito – a folha de papel.

Na sequência de eventos que o Coletivo Água Branca vem promovendo, a ampliação de diálogos no âmbito da arte pública tem sido o foco central. É o que acontece, também, com a exposição LAMBE-LAMBE – mostra pensada como evento paralelo à comemoração do dia do graffiti. Nela colocamos em destaque a força da imagem gráfica concebida para o muro urbano – uma força que será potencializada, nesse projeto, pela diversidade de abordagens, realizadas por artistas de diferentes formações e procedências. Durante um mês, imagens nômades acampam no parque da Água Branca, interagindo entre si e propondo ao público uma reflexão sobre vida e arte na metrópole paulistana.

Texto de apresentação da exposição Lambe-lambe, Parque da àgua Branca, SP, 2010