"No atelier de Hélio Schonmann..." um texto de Flávio Motta

No atelier de Hélio Schonmann encontramos um artista atento aos caminhos da própria sensibilidade. Vimos luminosidades douradas, sem ouro, de ocre e amarelos superpostos; azuis e violetas a lhes contrastarem. Desconfiamos que Chagall andou por aqueles recantos.
Gestos largos, nos últimos trabalhos. Tinta por todos os lados! Espirros de todas as cores. Pedras moídas, convertidas em tinta. Tinta pingando vibrações policromadas, cintilantes, transpondo os limites retangulares da tela e da superfície plana. Aqui e ali, camadas pastosas, grossas camadas ressecadas. A própria paleta e todo ambiente do pequeno quarto onde trabalha incendeiam a sensibilidade do observador. É um "achado"*, porém é um "objeto-sujeito" o precário e sujo banquinho com a paleta do artista. A mulher da limpeza**, por certo, ficaria perplexa. E, mais ainda, quando descobrisse, atrás de tanta coisa pintada, uma pequena paisagem das "casas proletárias" do Pari e outros recantos da cidade. De lá surgem, tranquilas, sensíveis, delicadas, amorosas; muito à vontade, - até com o vento forte, o assobio a entrar pela porta como um tufão vindo do outro mundo. Sentem-se à vontade com Giacometti, ou figurões do "fauvismo", do "expressionismo" e de qualquer outro "ismo". E então falam das crianças e das descobertas no mundo do encantamento, da inocência primordial e o "correr atrás do vento"!
Chegam a "Eclesiastes" 7:2-:
"It is better to go a house of mourning than to go o house of feasting".

Flávio Motta

* "objet trouvé"
** "mulher da limpeza" - personagem do livro de SARAMAGO, José. O conto da Ilha Desconhecida, São
Paulo, Companhia das Letras, 1999.

(Texto publicado no folder da exposição JOGOS, de Hélio Schonmannn, 2001, Capela do Morumbi, São Paulo)

A PALETA



IMAGENS DA INSTALAÇÂO "JOGOS"