OLHAR-SE NO OUTRO

Hélio Schonmann

Como o ser humano constrói sua identidade, num ambiente tão massificado como o da metrópole? De que maneira o olhar do outro influencia a definição de identidade pessoal? O que significa pintar um retrato, no contexto da cultura contemporânea? Como se constrói a imagem pictórica?
Essas e outras questões serão levantadas na intervenção OLHARES CRUZADOS, promovida em 19 de dezembro pelo Coletivo Água Branca, no parque de mesmo nome. Nela, doze artistas estarão elaborando um diálogo plástico entre imagens plurais, realizadas concomitantemente – uma obra coletiva onde a própria linguagem da pintura estará em foco. O trabalho será feito sobre as paredes envidraçadas de uma construção, situada em meio ao parque.
A arte contemporânea vem se debruçando de forma insistente sobre o processo do fazer artístico, em abordagens que tantas vezes parecem denunciar uma crise de identidade crônica nesse fazer. Vincular pintura e identidade remete a uma indagação sobre essa linguagem, uma reflexão sobre sua natureza, sua história. A observação da realidade visível tem se constituído em importante referência no percurso da arte ocidental – olhar as aparências é, pois, um ponto de partida repleto de significados. Realizar um retrato é observar um visível que nos olha, que respira, que indaga. Alternar-se na posição de sujeito e objeto dessa observação é trabalhar a linguagem da pintura à luz da identidade, invertendo logo a seguir essa posição, num movimento pendular.
Ao promover uma celebração coletiva como essa, damos sequência ao projeto de arte pública que vem sendo por nós implementado, desde inicio de 2009. A opção por utilizar o vidro como suporte torna as imagens visualmente penetráveis – umas pelas outras – viabilizando a interação, não somente entre as que são vizinhas num mesmo plano, mas entre aquelas realizadas sobre paredes distintas, transformando a espacialidade da obra em importante protagonista do evento. A transparência do suporte permitirá, também, ao observador, uma inédita aproximação com o processo de elaboração das imagens – a tal ponto que ele poderá como que tocá-las, enquanto o trabalho é realizado – o que aprofunda ainda mais o caráter público da intervenção.

Texto de apresentação da intervenção-exposição OLHARES CRUZADOS, Parque da Água Branca, SP, 2009/2010


Intervenção OLHRES CRUZADOS - imagem de Wolf Gauer