Um depoimento de Francisco Maringelli sobre sua relação poética com São Paulo

Lançando mão de um olhar retrospectivo, constato a presença da paisagem paulistana no meu trabalho, desde os primeiros anos da década de 80. De início a figuração dos signos urbanos se construía, tão somente, por aqueles que impressionavam a retina e que se fixaram nos recessos da memória, traduzindo-se através de um simbolismo dramático.
À parte a natureza das poéticas visitadas e da pesquisa formal ao longo de três décadas, no âmbito da gravura em relevo, passei à experimentação com escalas maiores e com a fatura – que adquiriu uma caligrafia mais maleável, visando à superação das incisões caracterizadas pelos rastros das ferramentas utilizadas.
No momento, as imagens resultam da confluência de uma pesquisa em relação às potencialidades expressivas da gravura em relevo e de um enfoque poético que esquadrinha dentro de um tecido urbano restrito, paulistano, os caminhos pautados por obrigações profissionais e pela via de escape representada numa viagem à deriva, ansiosa por alguma surpresa, que não pode ser provida pela imaginação.
Nos trajetos, opero selecionando as construções que vivem sob o espectro da demolição, alguns ermos baldios com seus resquícios de natureza degradada, as naturezas mortas compostas pelos entulhos depositadas como despachos aos pés dos postes de iluminação, das incontáveis caçambas espalhadas por quase todos os bairros, etc...Destilo, enfim, uma poética em tom menor, ignorada e escarnecida, que para mim significa a essência da existência transitória dos signos visuais paulistanos e – para aqueles amantes da espetacularidade dos postais estaiados – os votos de uma jactância gozosa sem fim.

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