Bernard Dunstan: reflexões sobre o trabalho do pintor - texto Hélio Schonmann

 Bernard Dunstan, inglês falecido recentemente (próximo a seus cem anos): mistérios do corpo, contraluzes banhados em gris. Um artista aparentado dos nabis, mas muito singular. Vuillard e os primeiros nus de Bonnard são claras referências em seu trabalho.....tudo muito metabolizado. Trabalhando com temas restritos e composições sintéticas, afastou-se da tendência à exacerbação decorativa dos franceses, mas manteve muitos outros elementos de sua abordagem intimista e colorista. 

 Dunstan transpira erudição. Valeu-se dessa bagagem para realizar uma obra com grande economia de meios: despojada, pessoal, humana, vivaz. Se, por um lado, há algo de onírico e intangível em seus ambientes, por outro as mulheres que neles habitam não apresentam traço de idealização. A plasticidade dos corpos é sintética, mas nunca deixa de evocar o ser humano real. A vitalidade da pintura concentra-se nessas figuras, tão integradas/fundidas ao ambiente que parecem "brotar" dele. Convergências poéticas entre sonho e realidade. 

 Dunstan não dá ponto sem nó. Muitas de suas telas nos colocam diante de um jogo sofisticado, obrigando o olho a uma progressiva decodificação da imagem. Essas soluções são engendradas com naturalidade tal que é como se a tela fosse resolvido “a la prima”, num jato só de pintura. Por tudo isso a obra desse inglês me eleva a um estado de contemplação e de leveza, de alegria e encantamento.