Thiago Vaz é um artista inquiridor, extremamente atento a tudo que o
cerca. Recordo-me de vários diálogos que tivemos sobre arte pública e traduzo
aqui, em palavras minhas, o que entendo ser o eixo de suas reflexões: como
desenvolver um processo orgânico de trabalho, coerente com o tempo e o lugar?
Entre outras questões essenciais ao fazer artístico, Thiago é particularmente
sensível a temas referentes à identidade cultural. Mas na contemporaneidade, os
limites entre cultura local e global vão
se tornando mais e mais fugidios, convertendo esse num dos temas mais espinhosos e complexos da atualidade. A tecnologia
que nos conecta, multiplicando redes de informação, tende a derrubar muitas fronteiras,
criando novos laços e referências – fragilizando, por vezes, vínculos de
pertencimento com o entorno imediato. Mas a inegável tendência a uma certa homogeinização
comportamental, que testemunhamos em nossa era, não elimina diferenças culturais
mais profundas entre contextos locais. A diversidade persiste, como fator de
enriquecimento da vida humana.
Ser permeável à informação que nos vem de fora, sem perder de vista nossa
singularidade: eis um desafio que só faz crescer, neste início de milênio. Dentre
os jovens que se dedicam hoje, em São Paulo, a intervenções de rua, Thiago se
destaca por sua decisão obstinada e corajosa por enfrentar delicadas questões
identitárias. Destaca-se também por muitas qualidades que engrandecem e
potencializam o natural talento artístico de que é dotado: capacidade de
comunicação, independência, paixão, constância. É um artista consciente da realidade
histórica na qual está inserido e da enorme responsabilidade implícita em toda
e qualquer intervenção no espaço público. Sua postura e ação são plenas de
inquietação e dignidade.
Hélio Schonmann